segunda-feira, 22 de novembro de 2010

E a genética fez o Carnaval



Abaporu - Tarsila do Amaral
            Uma das características que é determinada hereditariamente é o fenótipo de cor de pele. Visualmente, esse fenótipo é um dos principais determinantes da raça. Na literatura, essa característica é muito abordada e marcante, tanto na prosa, como na poesia. O fenótipo de cor de pele clara tem suas raízes na Europa, o de cor negra é de origem africana e o tom da pele indígena tem origem americana. Dessa forma, podemos perceber as linhas de pensamento em relação às diversas raças em cada época da literatura brasileira e relacioná-las com o contexto histórico cultural.


Na genética, a determinação da cor de pele não é dada a partir de genes alelos dominantes ou recessivos. Desta forma, há uma enorme variedade de fenótipos para o tom da pele, como negro, mulato escuro, mulato claro, etc. No Brasil é muito notória essa diversidade de  tons de pele, já que o país recebeu seus colonizadores – o povo lusitano -, os escravos vindos da África, imigrantes de vários pontos da Europa e Ásia durante as guerras. A infinidade de genes existentes para determinar o fenótipo referente à cor da pele deve-se à miscigenação dessas raças.



Dança Tapuia - Albert Eckhout
  Podemos perceber a preocupação com a raça relacionada ao nacionalismo na primeira fase do romantismo. Nesta época, a sociedade buscava uma identidade nacionalista, que era baseada no caráter indianista. A poesia e a prosa da primeira fase dessa escola literária, portanto, tratavam desse tema, como na produção épica de Gonçalves Dias, “I-Juca-Pirama”, obra que valoriza os costumes indígenas e sua coragem. Nessa mesma escola literária podemos observar na obra “Iracema”, de José de Alencar, através do índio (Iracema) e do branco europeu (Martim, guerreiro português), a formação da raça brasileira. No romance, o casal tem um filho chamado Moacir, que representa o primeiro brasileiro.



É curioso analisar que o tema da formação do brasileiro é abordado quando tenta-se aumentar o nacionalismo, porém de formas muito distintas entre as escolas literárias, por pertencerem a épocas com contextos históricos diferentes. Desta forma, observa-se bem que enquanto em “Iracema”, o primeiro brasileiro é formado a partir da mistura do branco europeu com o indígena, em “brasil” – poema de Oswald de Andrade – obra Modernista, com a mesma temática, defende-se que o brasileiro é formado com a mistura das raças branca, indígena e negra, que não fora nem ao menos mencionada no romance “Iracema”. 


Nudez feminina reclinada no divã - Delacroix
   Ainda no Romantismo, na fase ultrarromântica, Álvares de Azevedo trata em sua poesia de uma mulher pálida de forma sensual, já que remete à morte e a necrofilia presentes no movimento literário. Na fase do Condoreirismo, ainda na escola literária romântica, autores como Fagundes Varela e Castro Alves defendem os escravos criticando a escravidão em suas obras. Em “Navio Negreiro”, de Castro Alves,  o autor dramatiza as viagens dos negros escravos para o Brasil, mostrando as péssimas condições humanas a que eram submetidos. Além destes aspectos, a poesia condoreira defendia os indígenas e a pátria.  



O Cortiço - O filme
  Nas obras de Machado de Assis, podemos notar a maior participação de personagens negros e mulatos, também tratando de escravos. Essa temática se deve à característica realista de retratar ao máximo a sociedade brasileira como é, verdadeiramente. Paralelamente ao Realismo, há o Naturalismo. Este movimento literário baseia-se no Determinismo, ou seja, segue a linha de raciocínio de que o homem é influenciado pela raça, pelo meio e pelo momento histórico. Aluísio Azevedo, em “O Cortiço”, trata da mulata Rita Baiana e a sensualiza. Além disso, este movimento é o primeiro a colocar em primeiro plano o mulato e o negro e tratar de sua exclusão social de forma crítica. Em “O Mulato”, por exemplo, Aluísio Azevedo aborda o racismo.



Menino com lagartixa - Lasar Segall
Nos romances de 30 do Modernismo, Jorge Amado também trata dos negros e pobres, mostrando sua realidade e criticando essa discriminação e exclusão social. O autor também tem como característica sensualizar a mulata, como em “Gabriela, cravo e canela”. Ainda no Modernismo, Jorge de Lima tem como característica colocar o negro como protagonista de suas obras, como o heroi do romance.




Carnaval em Madureira - Tarsila do Amaral
   Podemos concluir que na literatura, o nacionalismo vem relacionado ao fator histórico de formação da raça brasileira. Ao longo do tempo, as obras literárias não tratam mais das raças de forma separada, mas misturdas, formando o mulato e o caboclo. Com o amadurecimendo desse pensamento popular, o conceito de raça vai perdendo suas forças no Brasil e então fala-se da raça brasileira como junção de todas as raças. A arte em geral – principalmente a literatura -  reflete essa nova forma de ver o brasileiro.




 
Bibliografia:
CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Literatura Brasileira. – Informações sobre os movimentos literários e o contexto histórico.
http://www.portalimpacto.com.br/docs/01Rinaldo2ANOAula14.pdf - Informações sobre herança quantitativa.
http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Genetica/genesnaoalelos4.php - Informações sobre herança quantitativa.